Encontro no Guanabara expõe nova química política entre Cláudio Castro e Eduardo Paes’
“Rolou uma química”, entre Castro e Paes chamou a atenção do grupo de prefeitos durante o encontro no Palácio Guanabara.
‘Reunião sobre a Operação Barricada Zero acaba marcada por aproximação surpreendente entre governador e prefeito
O encontro realizado nesta segunda-feira (17), no Palácio Guanabara, tinha como objetivo apresentar aos prefeitos da Região Metropolitana os detalhes da Operação Barricada Zero, iniciativa do governo estadual para combater estruturas erguidas pelo crime organizado em comunidades. No entanto, um episódio inesperado acabou tomando o centro das atenções: a convivência extremamente cordial entre o governador Cláudio Castro (PL) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD).
A reunião, realizada a portas fechadas, revelou uma “química” que não foi vista nas redes sociais — já que Paes não apareceu ao lado de Castro em fotos ou vídeos publicados posteriormente. Mas para quem acompanhou o encontro presencialmente, a aproximação entre os dois foi clara e surpreendente.
Conversa amistosa chama atenção nos bastidores
Se o roteiro oficial previa explicações técnicas sobre a operação policial, quem esteve no salão principal do Palácio Guanabara percebeu que um outro movimento estava acontecendo ali. A interação fluida entre o governador e o prefeito destoou do histórico recente entre as duas gestões, frequentemente marcado por críticas, trocas de farpas e divergências públicas.
De acordo com presentes, Paes manteve postura aberta e colaborativa durante toda a reunião, elogiando diretamente o governador. A cena que mais chamou atenção foi o tom amistoso entre os dois — algo raro nos últimos anos, especialmente quando se leva em conta a disputa política entre diferentes grupos do Estado e do município.
A percepção geral foi de que, por alguns instantes, o clima tenso que costuma permear as reuniões entre instâncias de governo deu lugar a uma atmosfera de cooperação. A sintonia exibida na conversa despertou comentários imediatos. Funcionários, secretários e prefeitos trocaram olhares surpresos ao testemunhar a mudança repentina de postura.
Paes elogia abordagem e fala em quebra de paradigma
Durante a reunião, Eduardo Paes fez elogios considerados incomuns por quem acompanha de perto os bastidores da política fluminense. Ele afirmou que, em todos os anos à frente da Prefeitura do Rio, esta foi a primeira vez que ouviu do governo estadual uma abordagem realmente diferente para o enfrentamento à violência.
O prefeito destacou que a apresentação de Castro teria evitado o que chamou de discursos superficiais sobre as causas da criminalidade.
Segundo participantes da reunião, Paes afirmou:
“É a primeira vez que vejo uma abordagem sem o trololó de que a violência seria, essencialmente, um problema social. Isso representa uma quebra de paradigma.”
A fala repercutiu instantaneamente no salão, e muitos interpretaram o comentário não apenas como elogio, mas como sinal de reaproximação política — ainda que circunstancial.
Histórico de idas e vindas entre Paes e governos estaduais
A relação entre Eduardo Paes e diferentes gestões estaduais sempre foi marcada por fases de aproximação e distanciamento. Ao longo de suas passagens pela Prefeitura do Rio, Paes já protagonizou alianças e confrontos com governadores como Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão, Wilson Witzel e agora Cláudio Castro.
Os embates recentes entre Paes e Castro incluíram críticas públicas, divergências sobre segurança, diferenças na gestão do transporte e disputas eleitorais indiretas. Por isso, a harmonia observada na reunião chamou ainda mais atenção: representou um contraste evidente com o clima que se viu nos últimos meses.
Nos bastidores, há quem atribua essa mudança a um momento de conveniência institucional. Outros acreditam que a cooperação pode ter se tornado inevitável diante da complexidade da Operação Barricada Zero, considerada estratégica para as regiões dominadas pelo crime organizado.
Operação Barricada Zero como pano de fundo
A pauta oficial do encontro era a apresentação da Operação Barricada Zero, uma ação que promete desobstruir acessos bloqueados por criminosos em diferentes comunidades da Região Metropolitana. As barricadas, construídas para dificultar o acesso de viaturas policiais, ambulâncias e serviços públicos, se tornaram um dos símbolos mais visíveis de domínio territorial do tráfico e de milícias.
A operação prevê ações integradas entre Estado e municípios, respeitando especificidades de cada localidade e buscando restabelecer circulação, segurança e mobilidade nas áreas afetadas. O governo do Estado apresentou aos prefeitos um plano detalhado, envolvendo diferentes órgãos e propondo rotinas de resposta rápida.
Embora a pauta fosse técnica, a atmosfera política acabou se tornando o fator dominante da reunião.
A química que ninguém esperava
Para muitos dos presentes, o episódio marcou uma das raras ocasiões em que governador e prefeito demonstraram alinhamento na mesma mesa. Segundo relatos, houve momentos de concordância, troca de ideias e até leveza — algo que destoava de encontros anteriores.
O tom, definido por alguns como “diplomático e surpreendentemente cordial”, simbolizou um movimento inesperado no cenário político fluminense. Alguns participantes chegaram a comentar, em tom de brincadeira, que o clima estava tão bom que parecia ensaiado.
Embora não tenha havido fotos que registrassem essa proximidade, o contraste entre o que se viu na reunião e a ausência de imagens conjuntas nas redes sociais abriu espaço para interpretações. Nos bastidores, a leitura é de que ambos preferiram preservar uma certa distância pública, evitando interpretações eleitorais precipitadas.
Derrubando barricadas físicas — e políticas
A simbologia do encontro foi imediatamente percebida pelos prefeitos presentes. Enquanto o governo tratava de derrubar barricadas físicas, erguidas por grupos criminosos, a reunião também deu sinais de derrubada de barricadas políticas entre duas das maiores forças do Estado.
Ao final do encontro, a sensação predominante era de que, ao menos naquele momento, Estado e Município caminhavam rumo a uma articulação mais madura. Prefeitos classificaram a mudança como positiva e necessária para o enfrentamento de problemas que extrapolam fronteiras administrativas.
Por mais que a história recente mostre que as relações entre Paes e governos estaduais são marcadas por oscilações, o episódio desta segunda-feira revela que, quando há interesse comum, cooperação e diálogo podem prevalecer.
Resta saber se a “nova química” observada no Palácio Guanabara foi pontual — fruto do contexto — ou se representa um movimento mais duradouro de aproximação institucional. A Operação Barricada Zero deve exigir colaboração contínua entre Estado e Prefeitura, o que pode consolidar a ponte aberta durante o encontro.
Por ora, o episódio entra para o arquivo dos momentos simbólicos da política fluminense: daqueles em que a pauta do dia perde protagonismo para o comportamento dos seus protagonistas.
